Rios e Ribeiros
Em Matosinhos são vários os cursos de água que serpenteiam por todo o concelho irrigando zonas onde ainda é praticada a agricultura e percorrendo zonas de carácter urbano e industrial antes de desaguarem no Oceano Atlântico que banha a nossa costa ou em outros cursos de água principais.
O rio Leça é sem dúvida o rio mais conhecido do concelho dado a sua importância na modelação do terreno e da paisagem, igualmente o rio Onda cujo percurso se insere em Matosinhos no seu troço final, é considerado de interesse no projeto ambiental da autarquia.
Também é dado enfoque especial às ribeiras de Matosinhos, as quais são divididas em ribeiras do litoral e ribeiras do interior caso as mesmas desaguem no mar ou em outro curso de água, respetivamente.
Rio Leça
São diversas as teorias sobre a origem do onomástico “Leça”.
Nos escritos antigos aparecem vários nomes, nomeadamente, Lethes, Celando e Letitia.
O rio Lethes é na mitologia considerado como o rio do esquecimento. Para alguns autores este rio corria nas proximidades de Tártaro, ou seja, no lugar mais profundo do inferno; para outros, corria na extremidade ou no centro dos Campos Elíseos, lugares deliciosos iluminados por um sol especial e rodeados de bosques de roseiras e mirtos. Quem bebesse da água deste rio esqueceria todos os males da vida e reencontrava o bem-estar e toda a alegria da Terra.
A maior parte dos autores concorda que o nome Celando (de Celandus) era uma antiga designação do rio Cávado e que o nome de Lethes se refere ao antigo Belion dos Lusitanos, que passou a designar-se dessa forma depois da conquista romana e que atualmente se designa por rio Lima.
No Entanto, o rio Leça é mais que um nome, é um curso de água que nasce no concelho de Santo Tirso, e que, no seu percurso até à foz, no porto de Leixões, em Matosinhos, percorre cerca de 47 Km ao longo de 4 concelhos (Santo Tirso, Valongo, Maia e Matosinhos).
Neste local poderá obter mais informações sobre o rio Leça, as quais se dividem pelos seguintes temas:
- Caracterização Geral da Bacia Hidrográfica do rio Leça
- Ecossistemas Aquáticos, Ripícolas e Terrestres
- Clima
- Solos
- Recursos Biológicos. Conservação da Natureza
- Paisagem
- Locais do rio com interesse histórico-cultural
Caracterização Geral da Bacia Hidrográfica do rio Leça
O rio Leça nasce no lugar de Redundo, freguesia de Monte Córdova, no concelho de Santo Tirso, a uma altitude de 475 m, percorrendo 46,750 Km desde a nascente até à foz, no porto de Leixões, em Matosinhos, onde desagua no Oceano Atlântico.
No seu percurso, atravessa sucessivamente os concelhos de Santo Tirso, Valongo, Maia e Matosinhos.
A sua bacia hidrográfica, ou seja, a área que é drenada pelo rio Leça e pelos seus afluentes, compreende uma superfície de 190 Km2 e é delimitada a norte pela bacia do rio Ave e a sul pela bacia do rio Douro.
Ecossistemas Aquáticos, Ripícolas e Terrestres
Os ecossistemas aquáticos, ripícolas e terrestres associados à bacia hidrográfica do Leça encontram-se fortemente alterados devido à inserção da mesma numa área fortemente industrializada e com grande aglomerado populacional e, tal como acontece com a maioria das bacias hidrográficas do nosso país, apenas podemos encontrar situações de melhor qualidade ecológica nas zonas próximas das nascentes.
Clima
O clima da região do Plano de Bacia Hidrográfica (PBH) do rio Leça resulta da sua posição geográfica e proximidade do Atlântico e da forma e disposição dos principais relevos.
Estes fatores determinam que a região seja relativamente pluviosa, apresentando valores da precipitação média anual que variam entre os 900 e os 2.400 mm, onde, nos setores mais elevados de montante da bacia, são registados valores de precipitação média anual da ordem de 2.000 mm, repartida por cerca de 130 dias.
A maior parte da área do PBH apresenta temperaturas médias anuais entre 13ºC e 15ºC. A faixa localizada a leste do alinhamento Santo Tirso – Paços de Ferreira, mais elevada, apresenta temperatura entre 11ºC e 13ºC. A faixa litoral apresenta os maiores valores de temperatura, de cerca de 14,5 ºC e em Pedras Rubras a temperatura é um pouco menor, de cerca de 13,8ºC.
Os verões são do tipo moderado, com a temperatura média máxima do mês mais quente (julho) entre 22 °C e 24 ºC, registando-se temperaturas superiores a 25 ºC entre 1 a 10 dias anualmente. Os invernos são do tipo moderado, observando-se em janeiro cerca de 1 dia, em média, com temperatura do ar negativa.
De acordo com critérios simples de classificação, o clima da área do PBH varia entre temperado, húmido e muito chuvoso nos setores de montante e temperado, húmido e moderadamente chuvoso na faixa litoral.
Solos
As principais rochas consolidadas da região são, por ordem decrescente de representação, os granitos, os xistos, os granodioritos e diversas rochas afins destas.
Recursos Biológicos. Conservação da Natureza
De entre as espécies florísticas, não há espécies a destacar por deterem estatuto de ameaçadas. A formação florística espontânea ainda existente com valor ecológico é as florestas-galeria de amieiro (Alnus glutinosa), carvalho (Quercus robur) e salgueiro (Salix spp).
São referidas para a área da bacia hidrográfica, embora sem confirmação no terreno, as seguintes espécies de mamíferos: toupeira-d’água, o musaranho-anão e a doninha.
Das espécies de répteis, as seguintes são consideradas potencialmente ocorrentes na área em análise: licranço, sardão, lagarto-d'água, lagartixa, cobra-d’água-viperina, cobra-d’água-de-colar.
Quanto aos anfíbios, podem ocorrer as seguintes espécies: salamandra-lusitânica, salamandra de pintas amarelas, tritão de patas espalmadas, tritão marmorado, sapo parteiro, discoglosso, sapo de unha negra, sapo, sapo corredor, réla, rã-ibérica e a rã-verde. O facto de as águas do Leça se apresentarem bastante contaminadas a nível orgânico e industrial torna a ocorrência dos anfíbios, atualmente rara. Não havendo referência de anfíbios no curso do rio, estima-se que apenas algumas destas espécies possam ser encontradas nos troços iniciais e nalguns dos seus afluentes.
Antigamente havia no rio uma grande variedade de peixes: barbos, bogas, escalos e, em menor quantidade, trutas, sendo a pesca uma atividade muito praticada no Leça. Próximo do mar, em maré-alta, era possível observar ainda tainhas, múgens e outras espécies de peixe miúdo.
Paisagem
O rio Leça nasce acima do lugar de Redundo, relativamente próximo e a leste do Monte da Citânia, o qual se localiza entre os concelhos de Santo Tirso e Paços de Ferreira. Banha o que foram as antigas terras rústicas da Maia e do antigo concelho de Bouças, atual concelho de Matosinhos, tendo sofrido o seu troço jusante alterações profundas com a construção do porto de Leixões nos finais do séc. XIX.
Os relatos de inícios do século apresentam-no como um rio bucólico, calmo, pleno de azenhas e açudes, correndo por entre bouças, milheirais e humedecendo férteis várzeas. Aliás, tais como outros concelhos dos arredores do Porto, o concelho da Maia era um importante centro de cultivo hortícola e frutícola, fornecedor da cidade, pelo que podemos imaginar a importância do rio Leça e da sua rede hidrográfica como gerador de recursos naturais e consequentemente no estabelecimento de aglomerados humanos.
O antigo estuário do Leça, foi noutros tempos um local aprazível, onde se passeava, folgava e pescava, havendo referências ao local da ponte da Pedra, pleno de barquinhos no açude que no princípio do século era um local típico de recreio dominical, e à foz do rio, onde se realizavam festivais diurnos e noturnos.
Ainda no passado, aproximadamente um quilómetro acima da velha ponte de Pedra que ligava Matosinhos a Leça da Palmeira, junto da ponte Tavares, o Leça formava dois braços de rio; o rio Doce, do lado de Leça da Palmeira e o rio Salgado, do lado de Matosinhos. Estes dois braços do rio só voltavam a unir-se a jusante da ponte de Pedra.
Em maré-cheia, podiam entrar e sair para o mar as lanchas de pesca grossa, recolhiam e permaneciam no estuário após a faina pesqueira. Segundo testemunho de antigos cronistas, o rio Leça era navegável da foz até à chamada ponte de Guifões.
Hoje em dia a paisagem caracteriza-se por uma zona de cabeceira muito estreita e pouco extensa que alarga progressivamente até á foz, podendo dividir-se a bacia do Leça nos três troços que genericamente se descrevem:
- Troço montante - pequena área de cabeceira, de carácter eminentemente rural, com pequenos aglomerados rurais, onde a paisagem é ordenada e de grande qualidade.
Freguesias abrangidas: Lamelas e Refojos de Riba d'Ave. - Troço intermédio – zona mais larga e extensa que a anterior mas ainda relativamente estreita, que vai da Reguenga até cerca de S. Pedro Fins e Ermesinde. O primeiro terço deste troço, freguesia da Agrela, também é rural e apresenta boa qualidade paisagística. A restante área do troço começa, a partir daqui, a adquirir um carácter periurbano e algo industrializado, pelo que à medida que caminhamos para jusante, a qualidade da paisagem vai sendo cada vez mais média e reduzida.
Freguesias abrangidas: Água Longa, Alfena, Folgosa e Coronado. - Troço jusante ou terminal da bacia – zona mais extensa e vasta, que engloba todo o núcleo urbano e periurbano dos concelhos da Maia e de Matosinhos e algumas freguesias do Porto. É fortemente industrializada e por conseguinte a sua qualidade paisagística é genericamente reduzida.
Freguesias abrangidas: Moreira da Maia, Milheirós, Águas Santas, S. Mamede de Infesta, Paranhos, Leça do Balio, Leça da Palmeira, Custóias e St.ª Cruz do Bispo.
Local | Breve descrição |
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Ponte da Pedra, S. Mamede Infesta | A zona da Ponte da Pedra, em S. Mamede Infesta, foi no passado um local de veraneio muito aprazível. Para lá se deslocava um grande número de pessoas, para passear de barco, descansar, petiscar, nadar, etc.Nesta zona existe uma ponte de pedra, em cantaria e de um só arco, bastante antiga. Integrada na estrada romana que ligava a cidade de Olisipo (actual Lisboa) à capital da região da Callaecia a cidade de Bracara Augusta (Braga) passando por Cale (Porto), a sua construção remonta ao século II d.C. Embora no decorrer dos séculos tenha sofrido diversas reparações e reconstruções ainda são visíveis, na sua parte inferior, diversas “pedras almofadadas” características da arquitectura romana. |
Ponte de D. Goimil, Custóias | Nesta freguesia, no lugar de Esposade do Fundo, existe mais uma ponte românica a Ponte de D. Goimil. Ponte de cavalete com um arco ogival, construída em alvenaria de granito irregular, apresentando uma tipologia construtiva característica da Idade Média (sécs. XIII – XIV). Esta ponte estava incluída na antiga estrada romana que ligava o rio Douro com o rio Ave. Por volta de 1258, durante o reinado de D. Afonso III, esta estrada era designada por via veteris ou seja a estrada Velha. É um interessante exemplo da arquitetura civil pública medieval classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 516/71 de 22 de novembro. |
Ponte do Carro, Guifões | A unir Guifões com Santa Cruz do Bispo, existe outra ponte românica, a Ponte do Carro, uma ponte de cavalete com um arco de volta perfeita, construída em alvenaria de granito muito irregular, apresentando uma tipologia construtiva característica da Idade Média (sécs. XII – XIII). É um interessante exemplo da arquitetura civil pública medieval classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 516/71 de 22 de novembro. |
Ponte dos Ronfes | Esta ponte, construída com três arcos de volta perfeita, integrava a uma via de circulação regional que é denominada na documentação medieval como a Karraria Antiqua e cuja origem remontará a uma estrada secundária de época romana. Esta estrada vinha desde Cedofeita, pelo Monte dos Burgos dirigindo-se através do Padrão da Légua, Gondivai e Araújo, para a região da Maia. |
Ponte de Guifões | Esta ponte, hoje já desaparecida, situava-se no sopé do Castro de Guifões, junto ao estuário do Rio Leça. Era construída em alvenaria de granito regular e composta por três arcos de volta perfeita. Possuía ainda guardas em granito muito características, cuja tipologia parece enquadrá-la cronologicamente na Idade Média. No entanto a sua fundação poderá remontar à época romana, integrando-se na via litoral que “per loca marítima” fazia a ligação ao estuário do Ave e a Vila do Conde, passando pela villa romana de Lavra. Esta ponte ruiu durante uma cheia do rio Leça em 1979. |
Ribeira da Carreira ou Certagem
Localização: Freguesia de Lavra
Caracterização geral: Ribeira pouco ramificada, quase se resumindo à linha de água principal .Os limites da bacia situam-se entre o Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a povoação de Lavra. A foz da linha de água situa-se junto da Praia do Funtão.
Ribeira do Corgo
Localização: Freguesia de Lavra
Caracterização geral: A Ribeira do corgo corresponde a uma pequena vala que atravessa uns campos de cultivo e que só apresenta caudal em ocasiões de precipitação intensa. A foz da linha de água situa-se junto da Praia das Pedras do Corgo.
Ribeira da Agudela
Localização: Freguesia de Lavra
Caracterização geral: A Ribeira da Agudela percorre parte da freguesia de Lavra e vai desaguar entre a praia da Agudela e a praia do Marreco. A bacia hidrográfica abrange parte dos lugares de Gandra, Picoutos e Agudela e encontra-se medianamente urbanizada.
A ribeira de pequena extensão é pouco ramificada e apresenta baixa densidade de drenagem.
Ribeira de Pampelido
Localização: Freguesia de Lavra
Caracterização geral: A Ribeira de Pampelido apresenta reduzida dimensão, abrangendo, parte do lugar de Pampelido novo. A foz da ribeira localiza-se junto à praia do Marreco, estando atualmente canalizada.
Ribeira de Joane
Localização: Freguesia de Perafita
Caracterização geral: A bacia hidrográfica da ribeira ocupa uma área bastante urbanizada das freguesias de Perafita e Santa Cruz do Bispo. Drenam para a ribeira as zonas de Telheira, Freixieiro, Santa Cruz do Bispo e Perafita e, ainda parte do aeroporto Francisco Sá Carneiro. A linha de água principal encontra-se canalizada. A foz da Ribeira localiza-se junto a Praia do Paraíso.
Ribeira da Guarda
Localização: Freguesia de Perafita
Caracterização geral: A linha de água praticamente toda canalizada vai desaguar junto à Aldeia Nova
Ribeira da Boa Nova
Localização: Freguesia de Leça da Palmeira
Caracterização geral: A bacia da ribeira estende-se desde Monte Avó, abrangendo o Monte Espinho, Amorosa e uma grande parte dos terrenos da Petrogal. A maior parte desta bacia pertence à freguesia de Leça da Palmeira. A linha de água desenvolve-se essencialmente em zona urbana, encontrando-se artificializada em quase toda a sua extensão. A foz da ribeira esta localizada entre rochas a norte da Praia da Conchinha.
Ribeira da Riguinha e Ribeira de Carcavelos
Localização: Freguesias de Senhora da Hora e Matosinhos
Caracterização geral: As duas ribeiras nascem na freguesia da Senhora da Hora, encontram-se praticamente todas canalizadas, atravessando as freguesias da Senhora da Hora e de Matosinhos, freguesias bastante urbanizadas.
A nascente da Ribeira da Riguinha localiza-se na Fonte das 7 Bicas e tem um pequeno troço a céu aberto junto ao parque de Real.
As duas linhas de água juntam-se no cruzamento da R. Sousa Aroso, com a R. D. João I, percorrendo em troço comum até à foz situada na Praia de Matosinhos, junto à Praça Cidade Conde S. Salvador.
Ribeiras do Interior
Localização: Freguesias de Custóias e Leça do Balio
Caracterização geral: O ribeiro das Avessas tem a sua nascente em Custóias, segue pela freguesia de Leça do Balio, ai tem um troço a céu aberto junto aos lavadouros da Rua D. Frei Lopo Pereira de Lima afluindo ao ribeiro de Picoutos junto à Mainça.
A partir daqui ambos se direcionam para o rio Leça.
Localização: Freguesias de S. Mamede de Infesta
Caracterização geral: O ribeiro de Picoutos é um afluente do Rio Leça, a sua nascente localiza-se na cidade do Porto na freguesia de Paranhos. No concelho de Matosinhos, o ribeiro de Picoutos percorre a freguesia de S. Mamede de Infesta num canal artificial de betão armado aberto.