Foi a visão estratégica, de quem num dado momento teve de tomar decisões, de fazer escolhas, que está na génese da arquitetura de rutura, que aparece em Matosinhos nas décadas de 50 e 60.
Quando, em 1963, a Casa de Chá da Boa Nova é inaugurada, os escritos da época falam de um restaurante construído num local romântico à beira mar, de salas espaçosas e da deslumbrante vista de mar. O nome do arquiteto Siza Vieira, não é referido, passa despercebido. Hoje, em qualquer momento, em qualquer parte do mundo, haverá alguém a falar de Siza.
Basta parar um pouco, basta um só olhar não muito penetrante e percebe-se a Casa entre as rochas - não fosse ofuscar o mar - para ver o génio, para distinguir o traço da nova arquitetura portuguesa, a da Escola do Porto, considerada hoje uma das melhores do mundo.
A Casa de Chá da Boa Nova, uma joia idealizada por um jovem arquiteto de Matosinhos, um ícone da arquitetura mundial, era indubitavelmente um promissor começo. Seguiu-se a Piscina das Marés. Uma e outra obra são, embora que recentemente, monumentos nacionais.
Siza continuou e continua a trabalhar, também em Matosinhos.
Alcino Soutinho foi o próximo. Foi o arquiteto escolhido para o edifício do poder local, um poder local imbuído dos valores da jovem democracia Portuguesa. Hoje, o edifício da Câmara Municipal e da Biblioteca, que lhe é contínua, são ex-libris da cidade de Matosinhos e da arquitetura portuguesa.
Por sua vez, Souto Moura, também da Escola do Porto, contribui para este notável itinerário da nova arquitetura em Matosinhos: as Casas Pátio, junto ao Porto de Leixões, e a nova marginal de Matosinhos, são as suas obras mais significativas.
O paradigma desta arquitetura resulta do genial traço simples e da inspiração do Mestre de todos eles - Fernando Távora, cujo testemunho do seu talento encontramos nas obras dos outros e nas suas: a Quinta da Conceição e a adaptação do Museu da Quinta de Santiago.
O respeito absoluto, pela envolvente e aparente simplicidade e a intemporalidade são qualidades do discurso arquitetónico de todos eles.
Estes são os Arquitetos, cuja obra e o traço genialmente simples, que marcam indelevelmente Matosinhos. Tal como numa peregrinação o desejo de mudança foi cumprido – Matosinhos é o marco da Nova Arquitetura Portuguesa.