O Sítio
O Monte de São Brás localiza-se na margem direita do Rio Leça sobre um afloramento granítico que se despenha abruptamente sobre o rio, no limite entre as freguesias de Santa Cruz do Bispo e Custóias. No seu perímetro alberga as capelas de São Brás, também dedicada a Nossa Senhora do Livramento e do Mártir São Sebastião, a cerca de 70 m de altitude. A primeira orienta-se a poente e possui na sua frente uma extensa escadaria, a segunda está orientada a norte e numa cota mais elevada do que a primeira, de costas para o rio Leça.
A capela de São Brás é rodeada por um amplo adro em terra batida, com alguns bancos e mesas e com árvores de grande porte, nomeadamente sobreiros, plátanos, pinheiros, tílias, liquidambares e cedros. Anexa à capela, a norte encontra-se a casa da Irmandade de Nossa Senhora de Livramento. A capela de São Sebastião possui na sua parte de trás um miradouro de onde se avista um trecho notável do vale do Leça tendo em primeiro plano os campos agrícolas da Quinta de Santa Cruz do Bispo, outrora residência de verão do bispo do Porto e atualmente um estabelecimento prisional. A quinta é atravessada pelo rio Leça, evidenciado pela presença de uma galeria ripícola. No plano imediatamente inferior a este miradouro encontra-se um conjunto de azenhas. A capela de São Sebastião está orientada para um escadório que arranca com uma rampa, revestida em calçada portuguesa de granito. Este escadório é encimado por um cruzeiro e pelo Homem da Maça, uma escultura em granito, que constituem um outro miradouro, sobre um impressivo conjunto de blocos graníticos. Deste ponto parte um arruamento até à base da escadaria de acesso à capela de S. Brás. Atualmente, o monte encontra-se densamente arborizado, prevalecendo eucaliptos e acácias, que perverteram profundamente a escala do local, que primitivamente terá sido dominado por sobreiros e carvalhos. Paralelamente ao muro da Quinta de Santa Cruz do Bispo, corre a Rua de São Brás que é ladeada por altos plátanos e nos conduz ao Largo da Viscondessa, onde se localiza o imponente portão de entrada na quinta. Por sua vez, o Monte de São Brás tem uma proximidade significativa com o Parque da Ponte do Carro e com o Parque da Ciência. Recentemente foi implantado um parque de diversões na encosta norte do Monte, que se encontra inativo. A Festa do S. Brás ocorre na Freguesia de Santa Cruz do Bispo em honra de S. Brás e de Nossa Senhora do Livramento. Celebra-se no 1º domingo após o dia 2 de fevereiro e tem o seu apogeu numa procissão que sai da Igreja Matriz de Santa Cruz do Bispo até ao Monte do S. Brás, onde está a capela do Santo. Há missa campal de manhã e os romeiros compram utilidades e recordações, saciam a fome e a sede nas tradicionais barraquinhas, ou juntam-se na mata envolvente para merendas. A Festa da Senhora do Livramento - Celebra-se no 1º domingo após 3 de fevereiro.
Património Natural
Atualmente, o monte encontra-se densamente arborizado com várias espécies de árvores de grande porte, nomeadamente, carvalhos (Quercus robur, Quercus palustris), magníficos sobreiros (Quercus suber), plátanos (Platanus orientalis var. acerifolia), tílias (Tilia tomentosa), liquidâmbares (Liquidambar styraciflua), ulmeiros (Ulmus minor) e pinheiros-bravos (Pinus pinaster). Surgem também alguns arbustos e árvores pequenas com carácter ornamental, como é o caso do loureiro-cerejeira (Prunus laurocerasus), do abrunheiro-dos-jardins (Prunus cerasifera var. pissardi) e do bordo-negundo (Acer negundo). Prevalecem, contudo, eucaliptos (Eucalyptus globulus), mimosas e austrálias (Acacia dealbata e Acacia melanoxylon) neste local anteriormente dominado por vegetação autóctone composta por Q. robur e Q. suber.
Estas duas espécies do género Acacia foram introduzidas em Portugal para fins ornamentais e, no passado, foram também cultivadas como espécies florestais, árvores de sombra e fixadoras de solos. Ambas são consideradas espécies invasoras, sendo queAcacia dealbata é, provavelmente, a espécie invasora mais agressiva em sistemas terrestres em Portugal Continental. Do miradouro, existente na parte de trás da capela de São Sebastião, avista-se um trecho do vale do Leça onde se situam os campos agrícolas da Quinta de Santa Cruz do Bispo. A quinta é atravessada pelo Rio Leça, evidenciado pela presença de amiais ripícolas (habitat 91E0pt1 do Anexo I da Directiva “Habitats”, considerado prioritário no contexto Comunitário). Estas galerias ripícolas são dominadas pelo amieiro (Alnus glutinosa), contudo, aqui também se encontram presentes o carvalho-alvarinho (Q. robur) e o choupo-americano (Populus x canadensis), uma espécie exótica. A vegetação ripícola é uma estrutura distinta na paisagem. Embora pareça uma mera componente florística, ela constitui um sistema essencial para os ecossistemas fluviais, ao representar habitats únicos, fomentar a biodiversidade e a produtividade biológica, contribuir com matéria alimentar para os sistemas aquáticos, reter os sedimentos da erosão hídrica, reter nutrientes de lixiviação, para além da sua importância a nível paisagístico.
Património Cultural
“A Capela de São Sebastião, edificada no século XVI, é um templo de nave única, com alpendre assente em colunas, ao qual se acede através de ampla escadaria. No interior, possui altar revestido com azulejos seiscentistas, de padrão, encimado por nicho com a imagem de São Sebastião, ladeado por duas mísulas com anjos. A flanquear estas mísulas, foram dispostos dois painéis policromos em relevo, com Santos Evangelistas. A Capela de São Brás, ou de Nossa Senhora do Livramento, é uma reconstrução datada de 1880 de um templo seiscentista. De planta longitudinal, composta por nave única e capela-mor rectangular, cuja fachada é revestida por azulejos azuis e brancos e rematada por frontão com inscrição no tímpano, onde pode ler-se: "Esta Capela foi reedificada em 1880 pelos benfeitores. O Senhor António Francisco Pereira e sua esposa Viscondessa de Stª Cruz do Bispo em 1888 mandou a mesma senhora fazer o alargamento do seu adro, escadaria, Caza dos Milagres e pequenas habitações anexas". No interior destaca-se o retábulo de talha barroca, possivelmente pertencente à capela primitiva”. A Capela de S. Brás apresenta “(…) planta longitudinal, composta por nave única, capela-mor rectangular e adossado ao conjunto a N. um corpo rectangular alongado de dois pisos. Volume simples com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor e de três águas no corpo anexo. A fachada principal, orientada a O., é subdividida pelo corpo da capela e anexo. O da capela revestido a azulejos padrão azuis e brancos entre pilastras, rematado por frontão triangular com inscrição no tímpano, apresenta-se encimado no centro por uma cruz e nos extremos por pináculos piramidais. O portal principal de verga curva com lintel saliente é sobrepujado por um óculo circular. O corpo anexo de superfície rebocada apresenta vãos alinhados e emoldurados, duas portas no 1º piso e duas janelas de guilhotina no 2º piso. A fachada lateral voltada a S., com o corpo da nave sensivelmente mais avançado entre pilastras, deixa ver o portal lateral simples de verga recta, ladeado por dois janelões rectangulares engradados. No prolongamento a capela-mor apresenta apenas um vão do mesmo tipo. O alçado posterior do conjunto, salienta o corpo da capela-mor totalmente cego relativamente ao edifício anexo de três vãos emoldurados no primeiro piso, duas portas e uma fresta, e no segundo desalinhadas com as anteriores duas janelas de guilhotina sem moldura. A fachada lateral exposta a N. apresenta de forma dispersa portas e janelas, destacando-se adossado o volume de uma escada com patamar central e lanços únicos opostos. No Interior da nave destaca-se o corpo balançado do coro-alto com balaustrada de madeira pintada. Paredes com rodapé de madeira e lambril a meia altura de azulejos padrão azuis, brancos e amarelos. Do lado esquerdo ressalta o volume do púlpito com guarda pintada e dourada neoclássica. Na transição do tecto estucado liso em arco abatido para as superfícies estucadas das paredes uma cornija saliente em madeira pintada. Arco triunfal de volta perfeita, com sanefa em talha pintada e dourada ao gosto neoclássico que se prolonga até à cornija atrás referida. Na capela-mor o tratamento das paredes e tecto é igual ao da nave. Retábulo-mor barroco em talha dourada e pintada de branco, com nicho central separado dos laterais por colunas duplas salomónicas, decoradas com pássaros, folhas de videira e cachos de uvas. No nicho central a imagem estofada e policromada de Nossa Senhora do Livramento, no esquerdo a de S. Jerónimo e no da direita a de S. Brás. No entablamento do retábulo algumas caras de anjo. Sobre este um espaldar profusamente decorado com elementos vegetalistas. O corpo rectangular, é destinado no 1º piso à Sacristia, que apresenta um arcaz pintado, instalações sanitárias, arrumos e posto de venda de velas, e no 2º piso a salas de apoio à Irmandade.” O "HOMEM DA MAÇA" “A escultura em granito que se encontra no cimo do Monte de S. Brás e a que o povo chama de "Homem da Maça" merece uma investigação toda especial. Estamos diante de uma peça de grande valor histórico-cultural, de uma projecção ainda não devidamente estudada. Esta escultura foi encontrada, em tempos mal definidos, entre duas capelas, sendo, em 1935, deslocada para o cimo do Monte.
A estátua em granito está enterrada até aos joelhos, atinge a altura de uma pessoa, falta-lhe os dois antebraços, mostra mutilações nos olhos, nariz e boca, e ao lado, no seu sopé, encontra-se uma figura indefinida do mesmo granito, representando algum animal. Para uns é a figura de um antigo guerreiro (lusitano?) a julgar pela vestidura, cinturão, joelheiras e presumível couraça. Junto teria a estátua de um leão ou qualquer outro animal feroz. Nesta hipótese teria a clava na mão, se não estivesse mutilado. Está também desprovido dos membros inferiores e encontra-se implantado até ao meio da coxa sobre uma pedra de superfície plana. Seria, pois, um antigo guerreiro de barba e cabelo engrenhados, isto é, uma estátua representando uma personagem bárbara e togada - arte principal do séc. I. Para outros, a referida estátua é uma figura artesã e não mostra sinais de obra de arte culta. Seria trabalho que mãos habilidosas criaram, num misto de obra de arte culta. Seria trabalho que mãos habilidosas criaram, num misto de religião e paganismo. A opinião (do Dr. Bertino Daciano) faz deste achado um arranjo escultórico quinhentista que decoraria a Quinta do Bispo. A hipótese que parece ser mais estruturada é a que situa a famosa estátua entre os vestígios arqueológicos romanos existentes, outrora, na zona. Será, com efeito, um exemplar da estátua de Hércules ou seu filho - Amato, divindade mitológica grega que os romanos propagam nas suas colonizações da Península. Na mitologia e no mundo romano o culto de Hércules representava uma epopeia como evocação de um homem que ganhou o seu lugar no Olimpo, a premiar uma vida intensa de amores que terminou com uma morte trágica. Hércules, deus guerreiro, está associado ao culto de Vénus, expressão da força e do amor, com grande expansão no mundo ocidental. O relacionamento do "Homem da Maça", como estátua de culto mitológico nas povoações romanas não só é viável mas, inclusivamente, alumia de um modo científico a origem do próprio nome de Matosinhos. Na mitologia, com efeito, Hércules tinha o filho Amato, que prolongava, na colonização, a irradicação mitológica da divindade. Daí que seja viável que os romanos ou primeiros latinos que aqui chegaram tenham chamado ao porto de Leça, no sopé do Monte Castelo, o Porto de Amato, ou seja, no original latino, AMATUS SINUS, AMITI SINUS, AMATUSIAE (sinus quer dizer porto), fórmulas que a semântica transformaria em MATOSINHOS. Esta explicação para o topónimo Matosinhos é tão ingénua como a tradicional que fazia derivar o nome diminutivo de matos (Matos + inhos, vendo analogia entre Mato e Bouças), ou do "Matizadinhos" das conchas da praia, com que Caio Pallantia = Maia se cobriu nas festas do seu noivado.
Acessibilidade
A4, saída para a VRI e seguir em direção a Santa Cruz do Bispo. A partir do largo da Viscondessa, seguir pela R. de São Brás.