O rio Leça, que nasce em Santo Tirso, a uma altitude de 475 m, e desagua em Matosinhos, tem uma extensão de cerca de 46 quilómetros. Durante várias décadas, foi considerado um dos rios mais poluídos da Europa.
Em 2016, os quatro municípios por onde passa o rio- Matosinhos, Maia, Valongo e Santo Tirso- uniram esforços e começaram a trabalhar na consolidação, estratégia e definição de um plano para o Corredor do Leça.
O Município de Matosinhos apresentou o “Corredor Verde do Leça”, um projeto ambiental e de mobilidade, com um forte cariz cultural, económico, turístico e social, que vai permitir a valorização paisagística e ambiental do rio Leça e das suas margens, e contribuir para a coesão territorial, unindo o litoral ao interior, através de um canal próprio destinado à utilização dos modos suaves de transporte.
Além da requalificação e revitalização das margens do rio Leça e da sua envolvência, o projeto prevê a construção de um percurso pedestre e ciclável ao longo das suas margens, criando uma alternativa de mobilidade para as deslocações quotidianas, a pé e de bicicleta, entre as zonas residenciais e as zonas empresariais localizadas na sua envolvente.
O município de Matosinhos acredita que o “Corredor Verde do Leça” será o primeiro passo para a completa despoluição do curso fluvial e para a valorização paisagística das margens do rio, transformando-as numa área de lazer e devolvendo-as à fruição da população.
Obra em três fases
Cofinanciado pelo FEDER, através do programa comunitário Portugal 2020/Norte 2020, o projeto será executado em três fases, num total de 18 km intervencionados.
Praticamente concluída está a primeira fase, entre as pontes de Moreira e da Pedra (incluindo a ligação a Picoutos), numa extensão de 6, 9 km, promovendo a utilização de parques.
O investimento foi de 7,2 milhões de euros e abrangeu a construção de uma ciclovia e de percursos pedonais, entre outras melhorias, aumentando a visibilidade do rio Leça e dos seus focos de poluição, promovendo um maior contacto com a natureza e novas oportunidade de mobilidade ao longo do rio.
Segue-se a segunda fase, que compreende as pontes de Moreira e do Carro, numa extensão de 6,1 km. Com um prazo de execução de 18 meses, a empreitada está orçada em cinco milhões de euros.
A terceira fase, entre a Ponte do Carro e o Porto de Leixões/ Foz do Rio Leça, com ligações ao centro de Matosinhos e de Leça da Palmeira, terá uma extensão de 4,7 km.
Mobilidade
Além das cinco pontes que já existem (Pedra, Varas, Ronfos, D. Goimil e Carro), serão projetadas quatro novas pontes em estruturas metálicas, dedicadas exclusivamente para peões e bicicletas, e integradas na paisagem.
O projeto do “Corredor Verde do Leça” assume também um caráter intermodal, tendo em conta a proximidade à rede de Metro, através de três linhas diferentes, nas estações de Esposade, Araújo, Custió, Parque Maia, Crestins e Botica, bem como à rede de autocarros da STCP, que dispõe de um número significativo de paragens nas proximidades.
Estão, por isso, previstos parques de estacionamento públicos em determinados pontos do percurso. Será possível estacionar o automóvel e prosseguir o trajeto para o trabalho a pé ou de bicicleta.
Biodiversidade
A estratégia de valorização do corredor ecológico nas margens do Rio Leça prevê a estabilização de pontos de erosão, os cortes de limpeza, a contenção de espécies exóticas e invasoras e a plantação de árvores autóctones.
Foram escolhidas espécies que melhor se adaptam às condições do clima e solo locais, tal como ao regime hídrico do rio.
Das árvores que proporcionam sombra e frescura, destaque para o amieiro, o carvalho e salgueiro.
Ao longo das margens do rio, encontramos espécies como o amieiro, o salgueiro-negro, o lírio-dos-pântanos, a salgueirinha, a tabua-larga, e a alisma plantago-aquatica.
Nas galerias ripícolas do Leça, existem amieiros, choupos, salgueiros, sabugueiros, freixos, sanguinhos d´água, carvalhos-alvarinho e sobreiros, entre outros.
Relativamente à fauna piscícola atual, é bastante pobre devido à poluição do rio e das suas margens. Em alguns locais ainda é possível encontrar espécies como a enguia, o góbio, a perca-sol ou a taínha. Pelo mesmo motivo, muito rara é a presença de anfíbios.
Das espécies de répteis, regista-se a presença de licranço, sardão, lagarto-d ‘água, lagartixa, cobra-d’água-viperina e cobra-d’água-de-colar.
No que à avifauna diz respeito, já é possível observar a presença de guarda-rios, garças-boieiras, garças-reais, patos-reais, rabirruivos, alvéolas cinzentas, alvéolas brancas, pegas, maçaricos das rochas e verdilhões.
No âmbito do “Corredor Verde do Leça”, foi também desenvolvido um projeto para proteção da infraestrutura e preservação ambiental, caso se verifique um aumento da frequência de inundações em virtude das alterações climáticas.
Os muros de contenção existentes, utilizados para a proteção das infraestruturas existentes (emissário do rio Leça, condutas de água e eletricidade), são para manter. Outros em ruína e que servem de suporte aos terrenos adjacentes serão recuperados.
A instalação de passadiços metálicos e a colocação de pavimentos com sistema de drenagem são outras das medidas previstas.
Mobiliário e iluminação
Toda a infraestrutura está iluminada durante a noite, possibilitando a circulação de pessoas, nas deslocações casa-trabalho-casa, em condições de segurança. Optou-se pela instalação de soluções de baixo consumo energético.
Ao longo do percurso do rio, foi colocado mobiliário, como bancos modulares em betão (desenhados especificamente para o rio Leça e baseados em troncos e ramos de árvores), papeleiras perfuradas para facilitar o escoamento da água da chuva e bebedouros.
Sinalética
Além da sinalética direcional, a autarquia aposta em sinalética mais específica. Haverá um painel com um mapa geral do “Corredor Verde do Leça”, em português e inglês, com os pontos de interesse, bem como os percursos do Caminho da Costa Atlântica- Praia e do Caminho Português da Costa (para quem ruma a Santiago de Compostela). Haverá também um mapa por zonas, em português e inglês, identificando o local onde se encontra e o que existe nas proximidades, como instalações sanitárias, estacionamento, cafetaria, estação de metro ou pontos de interesse. Neste mesmo painel informativo, serão disponibilizados contactos úteis/de emergência, cuidados a ter e normas de conduta.
Prevista está também sinalética para as áreas do ambiente e cultura. Os painéis dedicados ao ambiente, no que respeita a fauna e flora, apresentarão não só a imagem da espécie presente no local, como informação, em português e inglês, e um QRCode para quem pretende obter um conhecimento mais pormenorizado.
Também os painéis da cultura darão a conhecer os principais pontos de interesse, através da imagem e de informação, em português e inglês, sobre determinado monumento, e terá um QRCode associado.