Descoberta confirma a zona de Lavra como um importante núcleo do povoamento da região durante a pré-história
Um povoado pré-histórico, em fossas, datado da Idade do Bronze (cerca de dois mil anos antes de Cristo) e um cemitério romano foram identificados em Lavra, no âmbito de medidas preventivas de salvaguarda do património arqueológico decorrentes de uma operação urbanística em curso.
Esta zona próxima da Rua de Antela está identificada no Plano Diretor Municipal de Matosinhos como uma zona de salvaguarda patrimonial, integrada na área da “villa romana do Fontão de Antela”. Esta classificação baseou-se num conjunto de referências antigas relativas ao aparecimento de materiais arqueológicos nesta zona desde 1900, incluindo mosaicos romanos e colunas, tendo a sua área sido delimitada em 2016 na Carta Arqueológica do concelho de Matosinhos. Em consequência da condicionante estabelecida no PDM para a zona foram realizados trabalhos prévios de sondagens arqueológicas prévias, dirigidas pelas arqueólogas Lídia Batista e Lurdes Oliveira, da empresa Arqueologia e Património, com o apoio e colaboração do promotor da operação urbanística Carlos Alberto Silva.
No âmbito do acompanhamento arqueológico que está a decorrer na Rua de Antela, em Lavra, foram encontrados vestígios arqueológicos de rituais funerários inéditos neste concelho. Foram encontrados na abertura de uma vala para a colocação de um muro. Na área próxima da atual Rua de Antela identificaram-se várias sepulturas de época romana, estando presentes quer o ritual funerário de incineração, quer ainda o ritual de inumação do corpo, assim como vários objetos arqueológicos associados às sepulturas.
As deposições mais antigas, do século I-II d.C. são pequenos covachos onde foram realizadas deposições com restos de ossos incinerados. Sobre a caixa foram colocados potinhos em cerâmica e outros objetos. Para além de ser a primeira vez que se encontra em Matosinhos este tipo de ritual funerário, isto também faz recuar a ocupação romana desta zona para uma época mais antiga do que conhecíamos até agora.
As outras três sepulturas encontradas anteriormente na zona, já são do século III – IV, uma vez que no século III d.C. o ritual de inumação foi substituindo a incineração dos corpos. Nestas sepulturas o defunto era acompanhado com diversos pratos e jarros com oferendas de alimentos. Vêm juntar-se a uma outra sepultura cuja descoberta, em 1986, na Casa Raeiro, a pouca distância deste núcleo, foi reportado pelo padre Silva Lopes.
De um tempo ainda mais antigo são o conjunto de fossas escavadas no solo, datáveis do 2º milénio antes de Cristo e que vêm confirmar outros achados similares na zona, da mesma época, em sondagens realizadas em 2004 pelo Gabinete Municipal de Arqueologia e História de Matosinhos.
Estes novos achados vêm assim confirmar a zona de Lavra como um importante núcleo do povoamento da região durante a pré-história e principalmente entre o período romano e a idade média. O próprio topónimo de Antela remete para a existência neste local de um monumento megalítico do género anta ou dolmén, construído pela primeiras comunidades pré-históricas de agricultores-pastores da região, de que ainda existe uma parte no adro da igreja paroquial. Já no 2º milénio antes de Cristo existiu nesta zona, a poente da atual igreja paroquial, um povoado que foi identificado através de vários materiais recolhidos em fossas abertas no subsolo. Mais relevantes foram os achados, ocorridos por volta de 1900, no campo do “Fontão dos Mouros”, perto da praia, de fragmentos de mosaicos policromados, colunas de pedra e cerâmicas romanas deduzindo-se que terá aqui existido uma “villa” romana. Provavelmente relacionados com esta “villa” estarão os tanques de salga de peixe e as salinas com piso de seixos rolados que são conhecidas nas praias de Angeiras e da Forcada e que habitualmente estão enterradas na areia. Mais tarde, já durante a idade média, são conhecidos diversos documentos que mencionam a existência de um mosteiro em Lavra, sendo que um deles, datado do ano de 897, diz que seria de fundação antiga ficando os seus limites entre dois ribeiros e que ia desde o “caminho antigo” até à beira-mar. Este mosteiro terá sido abandonado já no século XI. Considerando a dispersão de vestígios arqueológicos nesta zona a Câmara Municipal de Matosinhos procederá à adoção das medidas de salvaguarda do património arqueológico, previstas no Plano Diretor Municipal, que se mostrem necessárias.