Dando continuidade à excelente programação apresentada nos anos anteriores, a 11ª edição do Festival Internacional de Jazz de Matosinhos voltou a ser um grande sucesso.
A abertura deste evento singular na agenda musical do País foi na quarta-feira, 18 de Abril, pelas 21.30 horas, no Salão Nobre da Câmara Municipal, com um concerto de João Mendes, acompanhado pelo Carlos Azevedo Trio.
O Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto, e o Vereador Fernando Rocha, responsável pelo Pelouro da Cultura, estavam entre uma vasta audiência que aplaudiu João Mendes e o Carlos Azevedo Trio.
João Mendes é filho do cantor e autor Carlos Mendes e apresenta-se em Portugal pela primeira vez. Inicou cedo o seu percurso na música e fez parte de vários projectos relacionados com hip-hop e reggae. Este jovem músico está, neste momento, na melhor escola de jazz da Península Ibérica, o Talher de Músicos de Barcelona, onde estuda canto e composição com o Prof. Jeff Smith.
Carlos Azevedo é director do Curso Superior de Música do ESMAE e co-fundador da Orquestra de Jazz de Matosinhos. Tocou com grandes nomes do jazz, como: Bob Berg, Ingrid Jensen, Conrad Herwig, Steve Swalow, Gary Valente e Carla Bley. Destacaram-se ainda António Ferro, no Baixo, e Paulo Bandeira, na Bateria.
No dia 19 foi a vez da Exponor se encher de um público ávido de bom jazz. E não saiu defraudado. O Cyrus Chestnut Trio e a Orquestra de Jazz de Matosinhos com Mark Turner garantiram uma noite imemorável.
Cyrus Chestnut nasceu em Baltimore (USA) e recebeu as suas primeiras aulas de música com apenas 5 anos de idade. Entre 1981 e 1985 estudou na Berklee College of Music (Boston) onde recebeu os prémios de “Eubie Blake”, “Oscar Peterson” e “Quincy Jones”. Iniciou a sua carreira profissional com Terence Blanchard, Donald Harrison e Winton Marsallis e a partir de Setembro de 1991 foi pianista de Betty Carter. Tocou e gravou ainda com Larry Coryell, Courtney Pine, Chico Freeman, George Adams, Chick Corea, Joe Williams e Dizzy Gillespie.
O seu trabalho “Another Direction” recebeu o galardão de ouro da prestigiada revista japonesa “Swing Journal”. Cyrus tocou ainda com Vanessa Williams, Brian McKnight e The Manhattan Transfer. A acompanhar Cyrus Chestnut, estiveram Dezron Douglass no contrabaixo e Neal Smith na bateria.
E, mais uma vez, a Orquestra de Jazz de Matosinhos brilhou na Exponor. Ao longo dos seus cinco anos de existência, este grupo de Matosinhos têm-se afirmado como uma das mais consistentes e regulares formações do jazz nacional, sendo o seu repertório nesta primeira fase inteiramente constituído por música original de Carlos Azevedo e Pedro Guedes.
O apoio substancial dado pela Câmara Municipal de Matosinhos muito tem contribuído para o profissionalismo desta orquestra que tão bem tem representado o nosso país no contacto que tem efectuado com os maiores nomes internacionais do jazz contemporâneo.
A Orquestra de Jazz de Matosinhos esteve no concerto de encerramento da Porto 2001, dirigida por Zé Eduardo e interpretou obras de António Pinho Vargas, António Pinto, Bernardo Sasseti, Carlos Azevedo, Laurent Filipe, Mário Laginha, Pedro Moreira e Zé Eduardo. Nessa ocasião, participaram, como músicos convidados, três solistas de prestígio mundial: Bob Berg, Ingrid Jensen e Conrad Herwig. Em 2002, a maturidade e o nível da orquestra são reforçados através da parceria com o prestigiado Remix Ensemble, num concerto em que é interpretada a música do célebre disco da dupla Miles Davis/Gil Evans “Sketches of Spain”, dirigida pelo maestro Stephan Ashbury. Em 2003, a Orquestra de Jazz de Matosinhos convidou a prestigiada e histórica compositora Carla Bley que se fez acompanhar por Steve Swalow e Gary Valente.
Na sexta-feira, dia 20, a Exponor voltou a ouvir Jazz. "Transa Atlântica" é um conceito do pianista e compositor Miguel Braga e, musicalmente, resulta do cruzamento de várias influências que, vindas do lado de lá e de cá do Atlântico, acabam por convergir numa sonoridade latino-ibérica com perspectiva jazzística, de cunho pessoal.
Para esta “Transa“ (divertimento) contribuem a arte e experiência dos músicos que interagem há longa data com Miguel Braga. Este projecto apresentou-se com sucesso no “Funchal Jazz“ (Madeira), no Brasil com “100 anos do Porto de Vitória” e recentemente em Maputo (Moçambique). A actuação foi acompanhada pelo saxofone de Ernie Watts, um dos saxofonista mais versáteis dos últimos trinta anos, tendo sido por duas vezes aclamado com o “grammy” de melhor saxofonista do ano.
Trabalhou com Charlie Haden na “Liberation Music Orchestra” e mais tarde no internacionalmente aclamado Quartet West. Em 1983 tocou no Pat Metheny´s Special Quartet. Tocou e gravou com Eddie Gomez, Jack De Johnette, Arturo Sandoval, Jimmy Cobb e Kenny Barron.
Seguiu-se o concerto de Liz McComb. Como Mahalia Jackson, Liz dedicou toda a sua vida ao Gospel. Pertenceu aos grupos “Jean Austin Singers” e “Roots of Rock’n’Roll”.
Cantou no Festival Internacional de Montreux ao lado de Bessie Griffin, Taj Mahal, Luther Johnson Jr. e Koko Taylor. Foi convidada para actuar nas primeiras partes de Ray Charles e James Brown, pela sua voz e presença irresistíveis. As suas actuações no Casino de Paris, Champs-Elysées Theater, Opera de Lyon e no Olympia de Paris foram de redundante êxito, culminando com a gravação em 1998 do seu trabalho, “Olympia 1998 Live”. A Jazz Colletion Séries of ARTE considerou Liz uma das mais importantes “Gospel Queens” da actualidade.
Na última noite do “Matosinhos em Jazz”, a multidão que se deslocou à Exponor assistiu a outros dois grandes concertos de Jazz. Primeiro foi Mário Franco Quinteto com David Binney. Esta formação com estes músicos existe desde Junho de 2005, e o seu reportório assenta única e exclusivamente em temas originais. Neste projecto tem diferentes influências musicais tais como o Rock, Funky ou a Electrónica, mas onde o Jazz tem um papel “aglutinador”.
Mário Franco participou em diversos workshops com Rufus Reid, Niels Henning Orsted Peterson, Eberhard Weber, etc... Tocou entre 1985 e 1987 com o Miso Ensemble. Em 1986 e 87 frequentou, no Estoril, cursos de Contrabaixo pelo professor Ludwig Streicher, em 1988 ganhou o 1º prémio no Concurso “Jovens Músicos”. Posteriormente fez parte da Orquestra Sinfónica Juvenil onde trabalhou o repertório “clássico” sob a orientação de Christopher Bochmann.
Tocou com: António Pinho Vargas, Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Tomás Pimentel, Maria João, José Peixoto, João Paulo Esteves da Silva, Tommy Halferty, Carlo Morena, Carlos Martins, Daniel Erdmann, Andy Sheppard, Jarmo Savolainen, John Wadham, Jim Leff, Ralph Peterson Jr., Peter Epstein, Paolo Fresu, Ralph Towner entre outros. Em 1990 apresentou o seu primeiro projecto baseado em originais, no Concurso “A Juventude e a música” onde obteve o 1º prémio de grupo e 2º prémio de composição. O seu primeiro trabalho como leader o CD “This life” foi editado em 2006 pela editora Toneofapitch.
A noite encerrou com Benny Golson e o seu trio. Esta legenda do jazz vê o seu nome associado a grandes êxitos dos standards americanos: Killer Joe, I Remember Clifford, Whisper Not, Blues March, Are You Real…Com mais de 30 discos gravados e mais de 300 composições registadas, dedicou parte da sua vida a criar arranjos sobre composições de grandes nomes do jazz, como: Count Basie, John Coltrane, Sammy Davis Jr., Ella Fitzgerald, Benny Goodman, Diana Ross, Mel Torme, etc…
Benny Golson é doutorado pelo William Paterson College e pela Berklee School of Music. A convite do US State Departement fez uma tournée e leccionou na Nova Zelândia, Indonésia, Malásia, Burma, Singapora e escreveu uma obra para a Bangkok Symphony Orchestra. Em 2005 Benny escreveu uma obra para “100th Anniversary of The Juilliard School of Music”.
Benny Green nasceu em 1963 em Nova Iorque e apenas com sete anos de idade iniciou os seus estudos de música com o seu pai, saxofonista tenor.
Muito cedo viu a sua profissionalização no jazz ao lado de Eddie Henderson e Chuck Israels. Estudou com Walter Bishop Jr. e depois de ter tocado com Bobby Watson foi convidado para acompanhar Betty Carter. O extraordinário pianista Oscar Peterson atribuiu a Benny o “Glen Gould Internacional Prize”. Tocou e gravou com: Art Blackey, Freddie Hubbard, Bobby Watson, Milt Jackson e Diana Krall. Ray Brown convidou para o seu trio, com o qual gravou algumas das melhores páginas musicais do jazz.
A programação do “Matosinhos em Jazz” incluiu, ainda, concertos de André Sarbib Trio com Robert Somoza no B’Flat nas noites de 19, 20 e 21 de Abril. André Sarbib, trinta e cinco anos de carreira motivaram a que este projecto “Coisas da Noite” viesse a acontecer, contribuindo para tal tudo o que de bom e mau a noite nos traz. É um projecto musical dentro da área do jazz acústico, baseado em temas originais e standards. Sarbib é um dos mais prestigiados músicos da cena portuguesa não só no âmbito do Jazz, mas também da música popular. Participou em inúmeros trabalhos discográficos e actuações de importantes músicos e cantores nacionais e trabalhou com Ivan Lins, Carlos Benavente, Ruben d'Antas, Alice Day, Jorge Rossi e Paulo de Carvalho. Em 1990 publicou o seu primeiro álbum, Silêncio das águas, e em 1993, Coisas da noite, dois trabalhos que o colocam entre os mais importantes cultores da música de fusão em Portugal.