Organizada pela Câmara Municipal de Matosinhos e pela ESAD, a exposição integra programa oficial do Ano do Design Português e procura refletir sobre o papel do desenho enquanto base do trabalho do Pritzker matosinhense.
Serenidade. Em 1992, Álvaro Siza Vieira escreveu Sobre a Dificuldade de Desenhar um Móvel e notou que o desenho de qualquer objeto necessita de ser saturado “de íntima segurança, serenidade, alguma coisa do incompleto que é”. A “complexa simplicidade” do traço do mais consagrado arquiteto português constitui a base da exposição «Siza Design – A recuperação do sentido do tempo», que a Galeria Municipal de Matosinhos acolherá entre 21 de Fevereiro e 26 de Abril.
Comissariada pela arquiteta Maria Milano, que conta com a consultadoria de Roberto Cremascoli, a exposição nasceu da iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos, sendo organizada em conjunto com a ESAD IDEA – Investigação em Design e Arte, o centro de investigação da ESAD (Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos).
A exposição «Siza Design» integra o programa oficial do Ano do Design Português e a sua inauguração constituirá o momento zero da candidatura de Matosinhos à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, dando também o pontapé de saída para a programação que a Câmara Municipal de Matosinhos este ano dedicará ao design. A aposta da autarquia terá ainda tradução na abertura do centro de pesquisa Quadra-Investigação, em construção na Rua de Brito Capelo, e da Quadra-Galeria, depois de já no ano passado ter inaugurado a Quadra-Incubadora de Design, em funcionamento desde Julho no Mercado Municipal de Matosinhos.
Resultado de um livro editado pela Artebooks e pela ESAD, com o apoio da Casa da Arquitectura, da Câmara de Matosinhos e da Ordem dos Arquitectos/Secção Regional do Norte, «Siza Design – A recuperação do sentido do tempo» propõe uma extensa abordagem sobre a obra de design do vencedor do Prémio Pritzker, apresentando peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria e de ourivesaria, mas também luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, bem como um conjunto de esquissos originais das peças criadas por Álvaro Siza.
Cada traço do arquiteto de Matosinhos, cada objeto que Álvaro Siza Vieira desenha e inventa, parecem, por si só, reunir a beleza que o justificaria. Acresce, porém, que os riscos de Siza ganham vida, primeiro, e utilidade, depois. Concretizam-se em elementos reais com finalidades reais, e, deste modo, transformam-se numa coisa outra que é já do domínio dos homens sem que tenha abandonado completamente a condição de sublime que existia no traço inicial e limpo.
A exposição que a Câmara Municipal de Matosinhos e a ESAD dedicam ao trabalho de Siza na área do design pretende, assim, sublinhar o génio do trabalho múltiplo e diverso do arquiteto, independentemente do destino que tem: um silêncio na paisagem ou uma presença discreta na intimidade de um lar.
“Para Álvaro Siza – nota a comissária da exposição, Maria Milano –, projetar não significa só desenhar objetos (…). Desenhar é um problema de tempo. Tempo necessário para decompor o problema, para realizar este grande processo lógico que passa pela arquitetura, o produto, o cliente, o material; tempo para compreender, recolher dados e alcançar resultados; tempo para se distanciar o suficiente e observar de longe; tempo para o regresso ao envolvimento inicial, participando assim com a emoção”.