Exposição de Julião Sarmento
Exposição “No fio da respiração” traz duas obras de 1966 que nunca tinham sido mostradas em público.
Há três semanas, no jornal espanhol El País, Ángeles García escreveu que o português Julião Sarmento é “um artista essencial na cena contemporânea quase desde o início da sua carreira”. Para compreender o motivo desta contundente afirmação, a exposição “No fio da respiração”, que será inaugurada na sexta-feira, 22 de julho, pelas 21h30, na Galeria Municipal de Matosinhos, mostrará um conjunto de 26 obras que abrangem a produção artística de Sarmento entre 1966 e 2011 e que revelam a complexa teia iconográfica que a referencia no âmago da cultura contemporânea.
Patente até 15 de outubro e comissariada pelo crítico de arte Miguel von Hafe Pérez, “No fio da respiração” apresentará obras de pintura, desenho e escultura provenientes de diversas coleções e que, segundo o comissário, constituem “manifestações interrogantes do corpo enquanto imagem desviante de conceitos associados ao desejo e à morte, motivos centrais na construção imagética” do autor. Duas das obras que estarão expostas em Matosinhos, datadas de 1966, nunca antes foram mostradas em público.
“No fio da respiração” centra-se no corpo feminino e explora as principais temáticas da obra de Julião Sarmento, atualmente um dos mais conceituados artistas plásticos nacionais. No último ano Sarmento expôs em São Paulo, Paris e Zagreb, tendo inaugurado em Madrid, no mês passado, em Madrid, uma exposição-instalação em que junta numa única peça 29 obras de arte contemporânea de artistas tão importantes como Edgar Degas, Juan Muñoz ou Gehrard Richter.
Sendo um dos momentos mais altos da Capital da Cultura do Eixo Atlântico, a exposição “No fio da respiração” dá sequência à criteriosa programação da Galeria Municipal matosinhense, confirmando-a como um lugar de referência para a arte contemporânea nacional. Ainda este ano, refira-se, Matosinhos contará com uma obra escultórica pública assinada por Julião Sarmento e que celebrará os valores universais do liberalismo e os irmãos Passos, que, nascidos em Matosinhos, foram dois dos mais inquebrantáveis defensores das liberdades e da justiça.
Julião Sarmento nasceu em 1948 e vive e trabalha em Lisboa. Com um percurso artístico iniciado no final da década de sessenta, tendo estudado Pintura e Arquitectura na ESBAL, a sua obra engloba uma enorme variedade de meios – a pintura, escultura, fotografia, filme, vídeo e instalação. Expôs individualmente em inúmeros museus em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente no MNCARS/Palacio Velazquez (Madrid), Hirshorn Museum and Sculpture Garden (Washington DC), Museu de Serralves (Porto), Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Estação Pinacoteca/Pinacoteca do Estado de S. Paulo (S. Paulo), Van Abbe Museum (Eindhoven), entre muitos outros. As suas obras encontram-se em coleções públicas e privadas em todo o mundo. Foi o artista representante de Portugal na Bienal de Veneza em 1997, e participou nas documenta 7 (1982) e 8 (1987) e na Bienal de São Paulo de 2002.
//Texto curatorial
“No fio da respiração” é uma exposição de Julião Sarmento contida no número de obras – vinte e seis –, e abrangente cronologicamente (num arco temporal que vai de 1966 a 2011), apresentando pintura, desenho e escultura.
No espaço da Galeria Municipal de Matosinhos o espectador tem a oportunidade de contemplar um percurso centrado nas múltiplas manifestações interrogantes do corpo enquanto imagem desviante de conceitos associados ao desejo e à morte, motivos centrais na construção imagética deste autor.
Apresentando dois desenhos e uma colagem de 1966 (dois deles nunca antes mostrados), a exposição ancora-se no corpo (da mulher) como sismógrafo de uma complexa teia iconográfica que referencia elementos da cultura contemporânea, nomeadamente a moderna tradição literária e cinematográfica e sedimentos de uma tradução ambivalente do quotidiano vivido, imaginado ou sublimado.
O sexo, o voyeurismo, o fetichismo ainda que centrais na obra deste artista não esgotam a sua prolixa desconstrução da realidade em sedimentos de confrontação direta com a perplexidade do espectador, obrigado a assimilar narrativas propositadamente incompletas, fragmentadas e desconexas: a tensão entre o êxtase e o sofrimento, o júbilo e a dor, a ameaça e o convite, impregna-se como imagem segunda que permanece em reverberações inesperadas com as vivências individuais.
“No fio da respiração”: ainda que isolados, estes corpos sem rosto pressupõem a presença de um outro – agente, testemunha, cúmplice ou espectador involuntário. Um ouvinte com o olhar. Porque o olhar que estas obras reclamam materializa-se no peso de sons, diálogos por vir, contactos, peles que se mordem, enroscam, perfuram.
O abismo da ameaça contraria-se na graciosidade das poses, a transcendência das ações anula-se na banalidade da repetição. A tensão entre aquilo que se vê e aquilo que se apreende do antes e do depois constituí um salto sem retorno no caldo de memórias culturais e individuais.
Intensa viagem contra a solidão, dir-se-ia. A vida intensificada enquanto morte adiada. Eros e Tanatos, civilizacionalmente erigindo todas as perguntas do mundo. O artista, como manipulador sapiente de um jogo de cartas, vai fazendo bluff acrescentando-lhe outras questões: no limite do medo, da ilusão, da perceção desviante, da euforia contida e do convite para a espiral do indizível e do indiscernível, tal como o fundo indistinto em grande parte das pinturas agora apresentadas: no fio da respiração.
Miguel von Hafe Pérez
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